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Mais Alto!
© Ilustrações de Bernardo P. Soares

Mais alto! Vem aí um livro-disco e um concerto para nos fazermos ouvir

As músicas já estão disponíveis no Spotify, mas a apresentação do disco-livro só acontece a 27 de Abril, no Teatro Luís de Camões.

Raquel Dias da Silva
Escrito por
Raquel Dias da Silva
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Pôr grandes e pequenos a pensar sobre o poder da música nas mudanças sociais e políticas – e como as canções que se fazem também são um reflexo dos tempos que se vivem. É esta a ambição de Afonso Cabral, Francisca Cortesão, Inês Sousa e Sérgio Nascimento, que se estrearam como grupo em 2021, com um concerto comentado que agora se apresenta como livro-disco. Editado com o selo louva-a-deus e distribuído pela Planeta Tangerina, com ilustrações de Bernardo P. Carvalho e comentários de Isabel Minhós Martins e João Vaz Silva, Mais Alto! reúne novas versões de canções de intervenção e protesto, algumas bem conhecidas, outras que ainda se hão-de fazer intemporais e que cristalizam os ideais democráticos e de liberdade. As primeiras apresentações acontecem a 27 e 28 de Abril, no LU.CA – Teatro Luís de Camões.

A música pode mudar o mundo? O mundo pode mudar a música? Foram sobretudo estas, entre outras questões, que levaram Susana Menezes, directora artística do LU.CA, a desafiar Francisca Cortesão, que lidera Minta & The Brook Trout, a criar um concerto comentado de canções reivindicativas. Estávamos em 2019 e Francisca aproveitou para estender o convite ao baterista Sérgio Nascimento, membro dos Despe & Siga nos anos 1990 e cujo vasto currículo inclui Sérgio Godinho, Humanos e Cara de Espelho. Um ano depois, já se tinham juntado também Afonso Cabral, vocalista dos You Can't Win, Charlie Brown, e Inês Sousa, que gravita pelo jazz e faz parte da banda Julie & The Carjackers. Mas a primeira temporada de concertos com a formação actual só aconteceu em Setembro de 2021 – a autora e editora Isabel Minhós Martins, da Planeta Tangerina, fez os comentários (porque não é só a música clássica que merece). E depois, já entre 2022 e 2023, com o apoio da Comissão Comemorativa dos 50 anos do 25 de Abril, o espectáculo percorreu o país como parte integrante das celebrações.

Desde o início que a ideia, muito simples e muito nobre, foi fazer nascer um projecto musical para todas as infâncias (como quem diz, dos 8 aos 80), que levasse para o palco temas como os direitos humanos, a justiça, a construção da democracia ou os perigos dos regimes ditatoriais e da censura, e mostrasse que todos podemos fazer política, mesmo se ainda não tivermos idade para votar. É assim que, a longo de um espectáculo feito para rockarmos todos juntos, o repertório – que inclui versões de canções portuguesas, brasileiras e de outras partes do mundo – é intercalado com comentários de Isabel Minhós Martins e João Vaz Silva, que procuram enquadrá-las ao explicar o contexto em que foram criadas, bem como as preocupações e reivindicações que reflectem. Por exemplo, “Comida”, um clássico dos Titãs lançado em 1987, fala-nos sobre como não basta alimentarmos o corpo, é preciso também saciar a alma, e reivindica liberdade de escolha e de movimento.

“Temos versões de canções de nomes como José Mário Branco, mas tentámos não cair no óbvio. Queríamos ter também contemporâneos, como Luís Severo, por exemplo, e música além fronteiras. Além de Rita Lee e Titãs, temos por exemplo Malvina Reynolds, com uma versão portuguesa de uma canção que compôs para crianças nos anos 70. Tentámos, no fundo, sair da caixinha”, antecipa Francisca Cortesão, antes de revelar que, a propósito da digressão pós-Covid pelo país, se transformaram “nuns Beatles instantâneos”. Inês Sousa acrescenta: “As crianças são um público maravilhoso e nós até somos um bocadinho divertidos, acho eu. Modéstia à parte. A Isabel [Minhós Martins] também esteve em palco connosco e ia explicando o que é que as canções nos querem dizer. Durante o “Cala-te e Come” [de Nuno Prata], regra geral tínhamos um coro gigante.”

Salvo a duração do concerto, que convém não ser muito extenso, o grupo assegura ter preparado tudo como normalmente – isto é, não pensar nas crianças como menos capazes que os adultos. Até porque, relembram, os mais novos são esponjas prontas a absorver o mundo. Neste caso, músicas como documentos históricos que nos dizem o que, num dado lugar e numa dada época, preocupava as pessoas, e que sonhos as moviam. Da fome e do amor à vontade de mudar. Mas, atenção, está tudo explicadinho no disco-livro, que se debruça também sobre como se vivia há 50 anos, como se passou a viver depois do 25 de Abril e como ainda há muito por fazer. “Em democracia, nem tudo é simples, fácil e rápido, pois viver em conjunto traz-nos enormes desafios”, lê-se. “Primeiro, porque somos todos iguais, no sentido em que todos queremos coisas fundamentais, como viver em paz, ir à escola, ter comida, um hospital que nos receba, uma casa confortável. Segundo, porque temos necessidades diversas e nem sempre estamos de acordo sobre o que é prioritário ou o melhor caminho para lá chegar. Terceiro, porque para funcionar a democracia pede a toda a hora a nossa participação.”

No LU.CA, para além dos concertos marcados para 27 de Abril, às 16.30 e às 18.30, estão programados mais dois concertos para dia 28, às 11.30 e às 16.30. Os bilhetes custam entre 3€ e 7€ cada sessão e a última de todas é seguida do lançamento do livro-disco, que terá entrada livre, embora sujeita à lotação do espaço. Se não conseguir lugar ou já tiver a agenda cheia, há outro concerto no dia 11 de Maio, das 16.00 às 17.00, na Reitoria da Universidade Nova de Lisboa – os bilhetes estão à venda na Ticketline por 5€. E a agenda online vai sendo actualizada. Quem sabe, provoca Francisca, não venham aí mais discos, ou pelo menos oficinas para ensinar os miúdos a fazer canções sobre coisas sérias e importantes. “Há um manancial quase infinito de músicas que podemos ir buscar e que fazem todo o sentido. Tirando o Sérgio, que nasceu em 1970, somos todos uns privilegiados que já nasceram em democracia, mas a democracia nunca está garantida, está em construção, e acho que essa é a nossa mensagem principal.”

Mais Alto!, de Isabel Minhós Martins (texto), Bernardo P. Carvalho (ilustração) e vários (música). Edições louva-a-deus, com distribuição pela Planeta Tangerina. 40 pp. 13,90€

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